Adoção, uma onda que pode se tornar tsunami

Anúncios em horário nobre, reportagens na grande imprensa e campanhas pagas pelo governo, o tema da adoção de cães e gatos recebe cada vez mais atenção da mídia. É verdade: levar um bichinho abandonado para casa ameniza as consequencias da superpopulação.
No entanto, a atitude – uma das principais soluções para esvaziar abrigos lotados – pode ser inócua e até piorar o problema, pois animais não castrados geram crias que se reproduzem exponencialmente.
Feirinhas de doação sem critérios e o "modismo", que pode contagiar pessoas bem intencionadas, mas ainda não aptas a ter um bichinho, completam a equação perigosa. "Infelizmente a 'onda' da adoção está atraindo gente que não procura doar o animal castrado, vacinado e saudável, muito menos se preocupa com a escolha do adotante”, alerta a protetora independente Izolina Ribeiro. “Para essas ongs ou protetores, importa mais a quantidade de doações do que a qualidade".

Políticas públicas
Para Izolina, uma das soluções está nas leis. "Os espaços, a disponibilidade material e os recursos humanos são finitos. A saída é lutar por políticas públicas voltadas para castração, educação e identificação de cães e gatos.", complementa.
Neste quesito, o município de São Paulo tem pretensões de ser um dos mais avançados no país, com a Lei 14.483/07 (saiba mais), que regulamenta criadores e feiras de adoção e prevê que apenas animais castrados sejam vendidos ou doados. No entanto, mesmo com quatro anos de existência, a legislação é desconhecida até por veterinários e só vem sendo aplicada, com muito custo, graças aos esforços de protetores (leia reportagem). Enquanto isto, a fiscalização para punir quem descumpre o código é muito tímida.
Os leitores do Notícias da ARCA de todo o Brasil podem se mobilizar para ter uma lei parecida em suas cidades, bastando para isso procurar um vereador local interessado em apresentar o Projeto de Lei na câmara. É importante conquistar a simpatia dos outros vereadores, com argumentos que demonstrem os benefícios para a saúde pública, para os amantes dos bichos e, diga-se de passagem, dos eleitores (leia mais sobre castração).  O passo seguinte é fazer que o PL entre na agenda de votações e seja aprovada. A própria Lei 14.483/07 (leia aqui) pode servir de base, apenas observando o aspecto da fiscalização – que pode ser feita por equipe própria ou por funcionários da zoonoses –, principal deficiência do código Paulistano.
De feira em feira
Flávia Ricco organiza feiras exemplares em um pet shop dentro de um supermercado na zona norte de São Paulo. Tudo com muito cuidado na escolha dos adotantes, doação apenas de animais castrados, vacinados e vermifugados e vistoria no novo lar que receberá os bichos.
"Somos muito criteriosas, já recusamos inúmeros pretendentes. Os candidatos passam por uma entrevista rigorosa, assinam um termo de responsabilidade e, normalmente, visitamos os animais para saberem se estão sendo bem cuidados, se têm alimento, água fresca e um bom lugar para dormir", conta Flávia.
A protetora explica que, para manter os bichos em boas condições e saudáveis, seus colaboradores só acolhem um novo animal em lares temporários após cada adoção. O grupo consegue doar uma média de 15 a 18 animais, entre cães e gatos, por evento. O trabalho desta turma pode ser melhor conhecido no site: http://www.adoteumfocinhocarente.blogspot.com/.
Em 2007, a ARCA Brasil, em uma parceria inédita com a Pedigree, criou o programa “Adotar é Tudo de Bom”. Diferente de tudo o que já fora feito até então, a iniciativa envolveu 50 Veterinários Solidários da Grande São Paulo e lares transitórios, gerando adoções com o “selo de garantia” deste profissional da saúde animal. Hoje a entidade já não mais participa do projeto.

Fonte: Arca Brasil